segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sonho

Eu tive um sonho estranho. Eu estava com quase quarenta. Achando que tinha visto de tudo. Acho que já vi. Já passei por tantos fins do mundo. Findo mundo. Queria ter encontrado alguém, antes de chegar aqui, nos quase quarenta. Alguém que tivesse olhado no meu rosto e visse o que os outros não conseguiam ver. Queria tanto, menina. Mas estou aqui, com quase quarenta. Quase totalmente caraca, vazio, magro, tossindo. Sozinho. Assim, que me vi, com quase quarenta. Com marcas de amores perdidos, de noites sozinhos, de excessos cometidos. Suas cartas eu rasguei, tentei jogar fora tuas fotos. Não consegui. Guardei as cartas. Guardei as fotos. Guardei a mágoa em mim. Deixei dentro de mim. Envelheci mais rápido assim. Meus cabelos já caem, e não sei se duro muito tempo mais. Sigo aqui, morena. Sigo aqui, envelhecendo cada dia mais rápido, quase não suportando mais. De saco cheio. Da vida que não termina, não tem feito sentido e tá aí, enrolando, sem mostrar a que veio. Do fim do mundo, que não tem fim. De uma paixão que não acontece e do tempo insiste em passar. E num pulo, eu acordei. E percebi, que de tudo que sonhei, só o “quase quarenta anos” era mentira. E não por muito tempo.