Acendo um cigarro comum. Dedos e sorriso amarelos. Mãos geladas. Pés molhados. Chuva de inverno, me molho até a alma. Encharco minhas roupas. Peço um conhaque na bar e um isqueiro novo. Cotovelos já acostumados a um balcão de bar. E é como se o banco tivesse se ajustado a mim.
O barman me alcança uma toalha pra secar os cabelos e me indica com os olhos, um filme que passa, na televisão ao longe. Não vejo direito, a fumaça impede. Só vejo alguém vindo.
Quem vem lá? Na fumaça de um bar?
Quem vem?
Ninguém. Certamente não era pra mim.
Acabo com esse conhaque e peço outro.
Está frio lá fora.
A chuva castiga a cidade.
Como se quisesse lavar algo nas ruas.
Se for pra me lavar, chuva, vai ter que esperar quando eu sair daqui.
Acendo outro cigarro e não consigo pensar em muita coisa.
Além de tudo que tenho passado.
Me permito, ás vezes, ser egoísta e pensar em mim.
Como se adiantasse algo.
Saio do bar e deixo a chuva invernal (ou seria infernal?) me lavar.
Mais tarde a chuva para, e tenho certeza que era a mim que ele queria lavar.
Durmo, sem querer acordar.