quinta-feira, 30 de junho de 2011

Conhaque

Acendo um cigarro comum. Dedos e sorriso amarelos. Mãos geladas. Pés molhados. Chuva de inverno, me molho até a alma. Encharco minhas roupas. Peço um conhaque na bar e um isqueiro novo. Cotovelos já acostumados a um balcão de bar. E é como se o banco tivesse se ajustado a mim.
O barman me alcança uma toalha pra secar os cabelos e me indica com os olhos, um filme que passa, na televisão ao longe. Não vejo direito, a fumaça impede. Só vejo alguém vindo.

Quem vem lá? Na fumaça de um bar?

Quem vem?

Ninguém. Certamente não era pra mim.
Acabo com esse conhaque e peço outro.
Está frio lá fora.

A chuva castiga a cidade.
Como se quisesse lavar algo nas ruas.
Se for pra me lavar, chuva, vai ter que esperar quando eu sair daqui.

Acendo outro cigarro e não consigo pensar em muita coisa.
Além de tudo que tenho passado.

Me permito, ás vezes, ser egoísta e pensar em mim.

Como se adiantasse algo.

Saio do bar e deixo a chuva invernal (ou seria infernal?) me lavar.

Mais tarde a chuva para, e tenho certeza que era a mim que ele queria lavar.
Durmo, sem querer acordar.