sábado, 13 de agosto de 2011

Crônica de Agosto

Caminhando contra o vento de agosto. O mês do cachorro louco. Meus amigos falidos, eu também. O tempo breve vai mudar. Eu sonhei. Ontem à noite. Coração quebrado, alma remendada. Fios desencapados são um risco pra quem quiser entrar nele. Montei meu coração. Sobraram peças. Com sempre. Guardei essas peças, na garagem da memória, alguns momentos bons. Com outras pessoas. Com outras mulheres. Coisas que parecem ter acontecido em outro tempo, em outro universo. O mês do cachorro louco. Sábado, treze de agosto. A sorte é que não é sexta. Hoje a noite será diferente. Tudo se divide, todos se separam. Como átomos que se desintegram e depois se unem de novo. Em outro formato, em outros corpos. Outros corações e outras almas. Que somos nós. A cada passo, me transformo e sei que não sou mais o mesmo de um dia atrás. Lembro de ter acordado dias a fio e eu estava sorrindo pelo simples fato de acordar. Hoje, acordar tem sido um calvário. Talvez a tua resposta seja não. Talvez eu devesse formatar esse texto, antes de cansar o leitor, mas tudo bem. Agosto. A gosto. De um modo ou de outro, agosto é turbulento. Sempre assim. É uma passagem. É o fim. E todo fim é sempre um outro começo. O fim do inverno. O inicio da primavera. Tudo se divide, tudo se transforma. Pareço louco, sou só um solitário. O cara do balcão. Amanhá é dia dos pais e penso se um dia um pequeno ser irá me chamar de pai e me abraçar. Penso nisso. Quase todo dia à noite, quando me deito sozinho nessa cama apertada. Penso nisso a cada pai que vejo ali na Redenção passeando com seus pequenos. Um gosto de noite triste. Eu sempre chego no fim da noite e cheiro a álcool e cigarros. Sempre. Vez ou outra, um doce cheiro me invade as narinas e quase me sinto flutuar. Na garagem da memória, procuro e não encontro, algum momento em que eu tenho sido feliz de todo. Talvez seja pedir demais pro universo que isso ocorra, mas pedir pra ser um pouco feliz hoje seria bom, não? Vejo na garagem da memória, meu pai. Em outro tempo, em outro universo. Ele me ensinava a bater de três dedos numa bola. Ele me ensinava a andar de bicicleta. E a dirigir. E a fazer a barba. Porque tudo mudou tão rápido? Onde tudo se perdeu?