segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Carta

Porto Alegre, fim do inverno de 2011

querida B,

Oi. Oi. Desculpe o sumiço. Os mesmos velhos problemas, sabe. Medo ou coragem? Sinto saudade, é verdade. Espero que não seja tarde. Eu não vou sumir pra sempre, mas logo sumo de novo. Sabe como é, a distância sempre complica tudo. Armas químicas e poemas. Flores e sorrisos.
Amores e dores. Vejo teu sorriso na tela. Vejo essa foto, querendo entrar nela. Saudade de ouvir tua voz ao telefone. Re-imagino aqui, sentado na canto do quarto, tua pele. Teu gosto. Longe demais. Me sinto meio incapaz, estando aqui, longe. E ainda resolvo sumir. Mas estou bem, tá? Como tem passado? Sinto os dias passarem, sem diferença pra mim. Todo dia o dia todo, pensando no tempo que passa e na data que não chega. Tomei chimarrão sozinho no parque ontem, lembrei de ti. Quase tudo que ando fazendo lembro de ti. [a água não estava muito quente]
O que tem feito? Pra onde tem olhado? Continua gostando de salada? O que tem na tua janela?
Ando na mesma, por aí. Ando. Ando parado, vendo os dias passarem, como um velho filme B.
Há um navio com teu nome no cais. Vezenquando ele some. Dias depois, reaparece, no mesmo lugar do cais. 'há um cais no porto, pra quem precisa chegar'.
Me sinto meio don Quixote, mas sem saber se essa causa está perdida. Espero que não. Esperar tem sido uma das coisas que mais tenho feito. Na zona sul existe um rio. E nesse rio mergulha o sol. Vou te levar lá, ainda. Cabelos castanhos. Olhos iguais aos teus. Meu reino pelo teu rosto pelo resto da noite. Enquanto isso, sigo andando parado, pra qualquer lado, feito a estátua do Laçador, com um olhar indiferente ao que acontece em volta dele. Minha cara eterna de cão sem dono. Pra ser sincero, eu espero.


Um beijo carinhoso,

L.