segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Crônica de setembro I

Outra noite que se vai, outra noite sem ti, outro uísque sem gelo. ando só pelo centro da cidade. está quase amanhecendo. Quase. Vejo o céu amarelar devagar feito meus dedos, amarelados pelos cigarros comuns que fumei. Penso em outros copos, outros corpos. Uma neblina cobre a cidade. “tento enxergar o teu mundo, e nele só existe verão por causa do teu calor” . Sigo andando. Sem sossego, sem sono, sem ti. Outra noite que se foi. Amanheceu em Porto Alegre. Um café. Na boca, um gosto ruim, de noite triste. Na marcha cega, um dia encontro uma razão. Tudo passou. O jornaleiro, a carro da padaria, a polícia, os adolescentes voltando d'alguma festa. Só eu que continuo aqui, assistindo a vida passar. Parado. Queria não ter parado tão cedo. Mais um ano que se vai, outra vida perdida na esquina. Outro uísque. Sem gelo. Insone, tenta me distrair a televisão. Crescer é tomar ciência da própria pequenez diante de tudo. O universo segue seu rumo [se é que ele tem algum] e eu não apareço em nenhum momento. Eu, tu e todos nós, amigo, nenhum faz diferença. Somos sós. Sempre. O caminho é solitário. Outro copo, pensando em outros corpos. Noite adentro, vida afora. Ao menos seis amigos pra segurar as alças do caixão. Ao menos um amigo pra discursar no enterro, pros outros cinco. Ao menos um pra levar cigarros no hospital. Isso bastaria. Um dia, outro corpo. Uma noite, outros copos. Nascer, crescer, se decepcionar, deprimir, envelhecer [se conseguir] e morrer. O ciclo eterno da vida. Eterna busca de nada. Somos nós, sós. Dois nós na corda, nós dois na corda bamba.