Amanhece. Acabo de perceber que não dormi. Acordei sem dormir. Parece que foi ontem. Ops. Foi ontem. Foste embora. Eu não disse, mas pensei. Se for, é pra sempre. E fostes. Melhor assim? Não sei. Comi o último chocolate que deixou aqui. Tiro alguns fios de cabelos longos aqui do travesseiro. Pela primeira vez, esse chocolate branco me parece amargo. Ou o amargor deve vir de mim. Não sei. Levanto, acho que hoje é sexta, mas é sábado. Menos mal. Escrevo. Eu pensei em te dizer que era pra sempre que irias, mas tu deves saber melhor que eu. Agora já é tarde, já não tem mais jeito, já não tem saída. Já não faz mais sentido ficar contigo. Chorei, confesso. Passou. Aos poucos me vem à mente que minha solidão está de volta. A recebo de braços abertos. Como a um velho amigo.
Um dia quente pede uma cerveja. Mesmo que seja de manhã, preciso de uma. Saio a caminhar, observo o dia, vejo pessoas. Vou até a praça. Ao banco, faço exatamente as mesmas coisas que faria se estivesse contigo. Ainda me comporto como um cara comprometido. Logo vai passar. Abro outra cerveja e a música que toca no meu player quase me leva ás lágrimas. Vai dormir, Marcelo Camelo.
Eu fui pouco. Eu fui de menos. Eu fui errado e culpado. Assumo. Mais um fracasso da minha parte, espero que você não se arrependa tanto do tempo perdido comigo. Agora não tem mais jeito. Melhor eu guardar aquelas cópias da chave que iria te dar. Talvez eu precise um dia.
Estamos sós de novo, solidão. Enfim sós. Eu posso estar completamente enganado. Mas fui feliz nesses dois meses e pouco. Pena que nos últimos dois anos nenhuma mulher tem me suportado por mais tempo. Duraste tanto,meu bem. Chegou a pronunciar a palavra amor. Uma palavra. Quatro letras. Nenhum significado. Acabou. Terminou, não quero mais. Não quero mais que percas tempo comigo. Que não possas sair com tuas amigas porque eu não quero. Não vou mais te atrapalhar. Te atrasei por dois meses. Não vou te segurar mais tempo. Tenho certeza que deve haver alguém melhor que eu pra ti. Certeza. Choro de novo, mas não há de ser nada. Logo passa. Waldick me entenderia. Ou Nelson. Rodrigues, claro.
